Diante das mensagens que recebi com relatos emocionantes em resposta ao post “Relacionamentos abusivos e mães acusadas de AP”, quero compartilhar impressões gerais, provenientes da prática no âmbito da clínica psicológica.
Em muitas situações envolvendo relacionamentos abusivos e acusações de AP, percebemos mulheres fortes, independentes, inteligentes, batalhadoras, cheias de iniciativa que são também herdeiras e questionadoras de uma certa maternidade tradicional. São ainda mães sobrecarregadas com jornadas exaustivas de trabalho dentro e fora de casa e que, muitas vezes, ainda estudam, almejando uma melhor colocação no mercado de trabalho. São mulheres admiráveis! Vemos nelas a potência do feminino atuando na vida!
Mas, por outro lado, observamos a diminuição dessa potência diante dos maus encontros. Ou seja, a fragilização, o adoecimento físico e mental (co-dependência, depressão, etc) e a anulação dessas mulheres em relacionamentos abusivos com homens hábeis na mobilização (e manipulação) dos afetos, das carências e fantasias sobre o amor perfeito, o “príncipe encantado” ou a “outra metade da laranja”. Sim, muitas de nós ainda almejam o ideal romântico em pleno século XXI, garantindo, assim, o faturamento da indústria cinematográfica, para dizer o mínimo.
Notamos ainda que sob a áurea de homens modernos e liberais se escondem sujeitos narcisistas, machistas, misóginos, possessivos, manipuladores, por vezes, com traços de personalidade anti-social, que necessitam subjugar ou degradar uma mulher para se sentirem “homens”.
Não é demais afirmar que hoje estamos diante do confronto entre certa masculinidade, ao mesmo tempo arcaica e moderna, e a potência do feminino, a qual se revigora com a nova geração de feministas e se expande por meio de uma micropolítica da vida cotidiana presente nos coletivos, nas redes sociais, na clínica psicológica, enfim, nos bons encontros!