Durante o atendimento de uma mãe, já muito cansada dos embates com o ex-marido no processo judicial, ela repetia que precisava que ele a “ajudasse” no cuidado dos filhos.
As questões de gênero que perpassam a fala dessa mãe são comuns na clínica e também em estudos sobre as relações parentais no pós-divórcio há mais de vinte anos, como demonstra a pesquisa de Ridente (1998):
“O homem se envolver com os filhos e com as coisas da casa não é um bicho de sete cabeças, mas algumas rupturas são ainda difíceis.”
“Essa conciliação não significa necessariamente uma reorganização da divisão de tarefas e do ritmo de trabalho desses homens; refere-se muito mais a “encaixes”, como por exemplo aproveitar o trajeto entre a casa e o trabalho para deixar o filho na escola ou, então, levá-lo para alguma atividade extracurricular após o expediente de trabalho”.
“É possível falar em uma relativa disponibilidade para as necessidades dos filhos, mas não há indícios de alteração na divisão das tarefas familiares e domésticas. O trabalho em nossa sociedade é organizado por gênero e não prevê a participação masculina nas tarefas familiares”.
RIDENTI, S. A desigualdade de gênero nas relações parentais: o exemplo da custódia dos filhos. In: ARILHA, M.; RIDENTI, S.; MEDRADO, B. (orgs.). Homens e masculinidades: outras palavras. São Paulo: ECOS/ Ed. 34, 1998, p.163-184.