Tenho identificado, com certa preocupação, perfis nesta rede social que anunciam a venda de diversos tipos ou modelos “editáveis” de documentos psicológicos.
À primeira vista, muitos profissionais e estudantes de psicologia podem pensar que esses modelos “editáveis” de documentos “facilitam” ou “agilizam” o seu cotidiano de trabalho.
Pois bem, importa assinalar alguns aspectos sobre o assunto.
Os tipos, as definições e a estrutura dos documentos psicológicos, decorrentes de avaliação psicológica, estão previstos na Resolução n. 006/2019 do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Portanto, você não precisa pagar para ter acesso a esses “modelos”, pode baixar gratuitamente do site do CFP.
Quanto aos anúncios sobre os modelos “editáveis” de documentos psicológicos, cabe lembrar que eles não mencionam que o “produto” NÃO OFERECE:
– subsídios técnicos, éticos e teóricos para a apreensão e problematização sobre a complexidade da vida das pessoas atendidas;
– apontamentos sobre a encomenda velada que muitas vezes está por trás do pedido de emissão de um documento psicológico;
– levantamento sobre os prováveis usos e efeitos do documento produzido para a pessoa atendida (e também para a/o profissional);
– cuidado e rigor técnico na redação do texto.
– discussão ética sobre o manejo do caso, dentre outros aspectos.
Em suma, avalio que a suposta “facilidade” dos modelos “editáveis” de documentos psicológicos, em última análise, engendra certa banalização acerca das práticas psicológicas, ou melhor, desconsidera o necessário cuidado ético sobre nossa práxis. Esse tem sido um dos eixos que norteiam a nossa proposta do Grupo de Estudos Avançados em Psicologia Jurídica e outras capacitações que temos realizado.